sábado, 15 de março de 2014

Sábado

Acordo cedinho, seis da manhã.
Já sei o que ele vai querer de café mas a minha vontade é encher a mesa: pão, leite, suco, frios, frutas.
Levanto. Penso em caminhar.
Vasculho coisas na Internet.
Encontro no meu e-mail um poema lindo que uma amiga enviou.
Leio três ou quatro notícias pela metade.
Procuro opiniões das pessoas que respeito, mas no caminho é tanta baboseira que cansei!
Escolho short, camiseta, tênis, a ideia do movimento não me deixa.
Vislumbro formas de dar vazão ao meu desejo, ao meu trabalho, à minha existência, canso de novo e decido: vou caminhar já!
Mas sento pra escrever porque percebo o instante grávido de algo
a poesia rondado, prestes a nascer.
a poesia do encontro, prestes a nascer
a poesia da experiência, prestes a nascer.
Não gosto de ler o que escrevo,
mas sinto, vivo e vejo que, dita com meu corpo,
ela tem poder.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Queira ou não queria terminou o carnaval

Carnaval em perfeita harmonia com o meu ser. Brinquei diferente, brinquei com mais verdade, fosse nas fantasias, na perna de pau e, principalmente na liberdade. Sem celular, entregue à força dos encontros! E encontrei quem eu queria, desencontrei na medida, não encontrei quem eu queria ter encontrado também, mas isso não é a vida?

Dei e recebi muitos sorrisos, nos quais a energia sempre se renova. É mágico quando a gente cruza o olhar com uma pessoa, conhecida ou desconhecida, e sobe dentro do corpo uma vontade louca de exibir a nossa dança e alegria para ela. Redescobri amigos, conheci gente nova, gente de verdade, gente como a gente, gente diferente, gente como eu, e quando isso acontece, essa intimidade do ser, não importa o tamanho do bloco nem o incontrolável da multidão, a gente sempre volta a se esbarrar, de repente, aquela pessoa linda está do seu lado de novo!

Homens de saia, vi vários, usem mais, é super sexy!

Carnaval do lixo, os garis deram, e ainda estão dando, seu show de cidadania, arte, intervenção urbana, tudo junto!

Carnaval dos escombros, dos cidadãos invadindo e pulando nos escombros da cidade, novas visões, novas apropriações, a alegria misturada com a orgia misturada com a tristeza misturada com a nostalgia. Nunca mais ter aquela acústica da bateria embaixo da perimetral! Ah! Então abusamos, ficamos lá embaixo ouvindo com intensidade os últimos momentos.

Me aproximei de figuras marcantes do carnaval, relevantes pra cultura da cidade e isso me deu um olhar de dentro, de quem faz o carnaval, e pude ser cordeira arrastando uma multidão com outra multidão de cordeiros, que são uns seres que por amarem o som do batuque ficam ali, delirando sem se importar nada com o esforço, e é lindo ver a turma se revesando nesta função.

Vi de bem perto o trabalho dos fotógrafos, cada um com a sua lente, o seu olhar, eternizando pessoas, cidade, alegria, momentos incríveis!

E dancei, dancei swing, babei no maracatu e na dança afro, no sangue, na carne, no coração, eu quero, sempre!!!! E voei, voei alto e lindo com os pernaltas mais adoráveis do mundo! E crianças desfilando no meio do bloco com seus pais, crianças no centro de tudo.

Carnaval é vida! É a fantasia mais real, e surreal da vida! Que no próximo ano eu conserve essa minha energia foliã!
Fotografia: Ramon Moreira

Fotografia: Ramon Moreira



Fotografia: Ramon Moreira

Fotografia: Fotógrafos Foliões

Fotografia: Ramon Moreira

Fotografia: Tiago Rononnes

Fotografia: André Mantelli

Escrito em 06/03/2014

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Os dez anos do Lucas

Faz contas de fração, conhece o sistema excretor, admira exposições, quer praia se faz calor. Canta Beatles e toca piano. Pesquisa o Clube da Esquina. Pula na cama, brinca de química e odeia se eu fico cínica. Dança na sala um ritmo doido, gira sem parar. Diz o que pensa, chora seus medos e odeia desavença. Grita alto se sente dor. Chama os amigos para brincar. Vive no computador. Mas aceita se eu mando parar. Adora gastronomia, curte cozinhar. Melhor ainda comer doce e aos outros agradar. Faz o meu peito vibrar quando fala o que o não gosta em mim. Ter conseguido isso me faz gostar ainda mais de mim. Mostra carinho, olha nos olhos, sem nunca recuar. Diz tchau mamãe, dá um sorriso e sabe que pode voltar. Seu rosto são flores, palavras são brilho, seu corpo é feito de cor. Faz minha vida ser mais linda, faz meus gestos serem amor.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Não sumi da poesia, muito pelo contrário

Voltei de Paraty tomada por um estado de criação cotidiana. Era esta a proposta e eu nem sabia, não sabia no que iria resultar este Fazer Poético Cotidiano que concebi com a Morgana. Para além do que escrevemos, que não foi pouco, o nosso registro diário não cronológico mas onírico, restou, ainda resta, este desejo que já existia - inventar a vida.
Já existia mas agora tem uma dimensão que me abraça e embala. Quase não penso das minhas ações, e é como se me coubesse apenas aceitar convites. Chegaram alguns:

Babette, parceria com o Coletivo Gourmet, onde Ayran Nicodemo me acompanhou com seu violino em poemas para celebrar o amor num jantar gourmet no dia dos namorados. O que eu gostei? Que ao invés de ter sido um jantarzinho naquele clima romântico meio batido, os poemas criaram uma liga gostosa entre quem estava lá. Deliciaram-se não só com a comida incrível da chef Ana Salles, mas também com o erotismo que Manoel de Barros, Adélia Prado, Elisa Lucinda e outros poetas escreveram tão bem. Além disso eu servi poesias, então alguns mais corajosos leram os poemas em voz alta ou para o seu par. Foi lindo de ver e viver! 










Mais com o Coletivo Gourmet - Rio Gastronomia

Criei um roteiro de músicas e poesias cruzando gastronomia, amor e arte com o Marcelo China. Ensaiamos, deliramos, saímos até na revista de Domingo do Jornal o Globo. Por motivo de força maior, a vontade de São Pedro, não conseguimos apresentar. Justo nos nossos dias, um Domingo na Lagoa e um sábado em Madureira, choveu, choveu, choveu. Estamos com essa vontade reprimida e já armando uma oportunidade para apresentar este trabalho. 


Bom, tem mais coisa, mas acho que vou dedicar este post à parceria, que tem sido bem gostosa. Publiquei um poema meu no blog do coletivo que replico aqui. Cada vez mais convencida de que viver em rede é a forma mais bacana de existir.

Fragmentos da cozinha amorosa

Degustar fragmentos
Pedaços de amor
Em texturas-gema
Aromas-baco
Caldo-sentimentos
Que tal como um poema
Invadem corpo a dentro
Despertando palavra
Sentidos-verbo
Versos de pele arrepiada.
Casamento: comida e afeto
Gesto de incluir no fazer da cozinha
A alegria de viver
De proporcionar
E pôr a alma no alimento.
Arte no ofício de misturar:
Gente com gente
Cada ingrediente na sua melhor essência
Cadência de tempero
De conversa
Cheiro na quantidade prefeita
E pra finalizar a receita
Carinho no exagero.
Adorável experiência de sentir passo a passo
Que toda dedicação se encolhe pra caber numa mordida
Num só garfo
Que entre um e outro gole
Recorre à memória por imagens:
Refeição em família
Merenda de colégio
Jantar de despedida
Almoço de aniversario
E busca cada estrato do percurso
Que nos traz até aqui
Neste agora
Que a refeição comemora.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O FAZER POÉTICO NO COTIDIANO - Off Flip - Paraty

Preparando as malas e os poemas para conversar sobre O FAZER POÉTICO NO COTIDIANO, resultado da experiência que estabeleci com Morgana Masetti.



Foram quase três meses escrevendo um diário de nossas experiências de vida e memória.  Habitando um espaço de invenção, refletimos, adensamos os afetos e criamos novas camadas do real. 

Para nos ajudar a tecer, Leo Gonçalves, poeta e amigo querido.

Participação especial Nina Flor.

Este é o convite para esta partilha!

Sábado, 03/07/2013
10:30
Rua Santa Rita, 178 - Paraty

Uma realização em parceria com o Clube dos Autores. 
Convite do Paulo Santos

sábado, 22 de junho de 2013

Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada



O meu nome poderia ser cabeleira. Fartura. Cachos. Fios. Caraminholas. Passei tanto tempo sem gostar desse cabelo. Vivia preso, molhando para abaixar, domar, sabe como? Mas hoje eu amo. É cheio, volumoso, flexível. Quando criança tive muito piolho e isso era péssimo. Odiava os cortes que a minha mãe fazia, meio trauma mesmo. Passei uma fase só comprando shampoo e cremes caros. Depois alisei. Fiquei um tempão com escovas progressivas. Tão sem personalidade! Agora não. Qualquer shampoo e creme, dos mais vagabas que existem, deixam ele lindo. O negócio é variar. Sabia que cabelo se acostuma com um produto e o vício tira os efeitos? No meu box tem unas dez variedade, quem vê sempre estranha. Lavo, seco só com toalha (escova nem pensar!) e passo os dedos. Depois um leave in, e deixo soltos para emoldurar o rosto. Cada dia tenho uma nova forma. Meu look depende dele, é meu ponto de mutação. Assim como eu, meu cabelo é sem disciplina, cheio de liberdade e louco por um cafuné.

Dizer

Dizer através do corpo. Dizer através das mãos. Dizer através dos sons. Dizer. Não acumular, falar. Precisar, dizer. Calar, dizer. Dizer o silêncio, expressar, não estagnar. Dizer, espreguiçar, esticar, dizer. Cantar, brincar, falar, pintar, chorar, urrar, dizer. Dizer a pausa. Dizer o gesto. Dizer o olho. Escutar as águas profundas e dizer. Dizer para si mesmo, dizer com cuidado. Dizer com força, dizer. Não estancar, fluir e dizer. Falar, não sufocar. E, sobretudo, dizer o amor. Amar. Amar sem medo, sem medo de dizer. Amar é voar, ser livre. Ser livre é dizer o amor. Ser vivo é amar. Amar é dizer e escutar. Amar é infinito. Amar é a língua dos homens. Quem ama aprende a falar.

terça-feira, 21 de maio de 2013

NOVAS DESCOBERTAS MUSICAIS, CHEGUEM ATÉ MIM!!!!

Há uns dias postei a seguinte frase no meu Facebook: NOVAS DESCOBERTAS MUSICAIS. CHEGUEM ATÉ MIM! E os amigos foram tão, mas tão generosos, que resolvi organizar o set list aqui e compartilhar com todos vocês. Tem coisas preciosas aí!

E o blog de poesias se abre para o deleite musical.

Muito grata, Fabricio Moser, Juliano Gomes, Sabrina Bitencourt, Thiago Saldanha Pereira, Raphael Arah, Jacqueline Gagliardi, Daniel Puig, Murilo Soares, David Lima e  Leo Gonçalves!!!



















domingo, 31 de março de 2013

Poema do renascimento eterno


E de vez em quando a gente cruza uma fronteira pra descobrir que elas não existem. A alma rasga no corpo. O grito sobe a canela. Um bicho solto. A fogueira sã. O rosto se alinha ao caso de que  não há morte que nos separe em fatos, morte alguma, apenas restos derramados recompondo a vida. O ser perplexo de perpetuar num todo nunca igual estira sua fonte. O espelho quebra. A mão se firma sem sombra. Nenhuma moldura possível. Cabelos embaraçados. É sangue, puro sangue, corte, lucidez. A dor que nunca acaba celebra todo nascimento possível. Nascimento todo. Crista. Prazer.

O choro vence para a grande gargalhada.

O corpo ereto,

braços abertos,

dança a festa do viver.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A noiva dourada

Seus braços aspiravam asas.
Seus sonhos varriam areia
ao som e baile do mar.

Não era casta, alva, domada.
Aquela noiva dourada
tinha cavalos na garganta.

Seu homem-montaria
lançava seu corpo na relva
sem medo ou hipocrisia,
amava um bicho-mulher.

Saciada em sua alegria
cantava mundo novo
paria filho forte
seguia em nome da paz.